A primeira vez da Clara no Brasil

A Clara nasceu na Inglaterra em novembro e desde então ela já  havia feito algumas viagens à Dinamarca e à França mas foi somente em junho que nós conseguimos ir a Brasil. Um dos fatores que levamos em conta foi o clima e sabendo que as temperaturas em junho são mais baixas, achamos que seria melhor para ela.

Diferentemente das outras viagens que fazemos que são normalmente para conhecer novos lugares, viagens ao Brasil e à Dinamarca são especialmente importantes já que  são oportunidades únicas para a Clara conhecer sua própria família, história, suas línguas e suas culturas. Em relação à família, é uma chance dela passar tempo com tias, tios e primos que não vem a Inglaterra. Já sob o ponto de vista cultural é uma oportunidade para se inserir de verdade nas nossas culturas. Claro que em casa nós fazemos o possível para ela ter esse contato com as nossas raízes através das línguas, de livros, músicas e tudo mais que podemos mas é logico que essa exposição no exterior é limitada.

Clara e vovó no Pão de Açucar

Então finalmente em junho, dias depois de voltar do batizado dela na Dinamarca, nós embarcamos para o Brasil. A viagem em si foi tranquila como todas as outras até a imigração quando encontramos um pequeno problema com o passaporte dinamarquês da Clara. O que houve foi o seguinte: A Clara já havia tido seu nascimento registrado na embaixada do Brasil em Londres mas como ela já tinha um passaporte dinamarquês, nós optamos por não tirar o passaporte brasileiro dela. No avião foram distribuídos cartões de chegada para todos os estrangeiros e como a Clara estava com o passaporte dinamarquês, eu preenchi um para ela. No item “nacionalidade” eu coloquei  que ela era dinamarquesa/brasileira. E esse foi o problema pois de acordo com informações da Polícia Federal, cidadãos brasileiros devem entrar no Brasil com ao menos um documento brasileiro. Ela poderia entrar com o passaporte dinamarquês mas acompanhado de um documento nacional como por exemplo identidade. Nós não sabíamos disso caso contrário teríamos feito o passaporte no mesmo dia que fizemos o registro de nascimento. No final, nós entramos com o passaporte e o registro de nascimento emitido pela embaixada. Após uma pesquisa, descobri que todo brasileiro pode entrar no Brasil com passaporte estrangeiro mesmo sem  documento  de identidade nacional porém nesse caso, ele entrará como turista e portanto limites no tempo de estadia poderão ser aplicados.

Clara e vovô

Nossa estadia começou no Rio, minha cidade natal, onde ficamos na casa dos meus pais. E aí foi uma mistura de ver amigos, familiares e também de visitar lugares que nós gostamos e lógico, comer tudo que eu sinto saudade: churrasco, biscoito globo, água de côco…. nossa dá até fome pensar em tudo isso! Uma coisa legal que fizemos foi uma reunião de família e amigos para uma feijoada. Eu e meu pai fazemos aniversário no mesmo dia, 25 de junho, então aproveitamos a ocasião da comemoração do duplo aniversário para apresentar a Clara aos amigos a parentes que ainda não a conheciam. Foi um dia muito legal e o “friozinho” do inverno carioca foi ótimo para a Clara.

Além dos dias passados na piscina do clube, as idas a praia e o tempo com a família e amigos, também turistamos muito. E por turistar quero dizer passeio de turista mesmo. Rolou Pão de Açucar, Forte de Copacabana,  caipirinha super faturada em quiosque na praia e picanha fatiada no Garota de Ipanema. Poderia dizer que faço esses tipo de passeio por causa do meu marido que é estrangeiro e portanto gosta dessas coisas “de gringo”. Porém, a verdade é que eu mesma curto esses passeios. Saí do Brasil em 2005, para morar na China um ano e nunca mais voltei então depois de tanto tempo longe acho que “agringuei” um pouquinho. Amo a vista do Pão de Açucar e comer em churrascaria, e passear na feirinha da General Osório. Acho que é uma forma de abraçar o máximo que posso de coisas típicas brasileiras de uma vez.

Uma outra coisa que nós decidimos fazer já que vivemos em uma família multicultural, é sempre na medida do possível aporveitar essas viagens e tentar conhecer um lugar novo no Brasil. Eu mesma saí nova do Brasil sem conhecer muita coisa. Conheço muito mais a China por exemplo, pela qual viajei loucamente do que o meu próprio país. Antes da Clara eu e Thomas já havimaos ido à Petrópolis, Ilha Grande e Paraty. Dessa vez com ela nós fomos à Porto de Galinhas e Maragogi. Eu até pensei em escrever um post sobre essas duas viagens, mas a verdade é que nós não fizemos muito: foram dias curtindo o mar, piscina e caminhando na praia no final de tarde. Foi a primeira vez que colocamos ela para andar na areia de verdade e mergulhar no mar, duas coisas que ela adora até hoje.

Clara em Maragogi

Ao todo ficamos 3 semanas no Brasil. Revi pessoas que amo e morro de saudades, senti calor de verdade, comi tudo que queria e mais um pouco. Também vi o outro lado: a violência urbana e a cruel desigualdade social do nosso país. Essa é sempre a parte triste de voltar. Não só a violência  e outros problemas em si, mas o medo e a revolta das pessoas que você sente na pele quando elas não param de repetir que “você não está na Europa, precisa tomar cuidado” e outras frases desse tipo. Eu entendo de onde vem esse medo mas realmente, depois de anos vivendo longe dessa violência crônica, a gente relaxa e percebe como a sensação de insegurança é tóxica para todo mundo. Sei da sorte que tenho de viver longe disso e espero que minha filha cresça vendo um Brasil melhor, mais seguro e mais igual. Mas mesmo com todos os problemas, é uma experiência muito legal e complexa ser a ponte que liga seu filho, e marido também no meu caso, ao seu país e cultura e levá-los todo ano ao Brasil me dá a oportunidade de conhecer meu próprio páis por outras lentes.

E para terminar, algumas dicas para quem está visitando o Brasil com filhos enquanto morando fora:

– Na medida do possível passe mais tempo pois além dos muitos amigos e familiares para ver, há a questão do fuso. Para quem está com bebê ou crianças pequenas é importante não manter uma agenda muito cheia pois já é muita mudança para elas.

– Tire o passaporte brasileiro mesmo que seu filho tenha outra nacionalidade. Simplifica bastante a viagem.

– Quando a gente visita é sempre assim: “nem me avisou que vinha”, “nem te vi”. A verdade é que as vezes realmente não dá tempo de ver todo mundo mesmo, ainda mais com criança pequena. No nosso caso por exemplo, a Clara pegou roseóla nos últimos dias lá e isso mudou completamente nossa agenda. Avise à todos com antecedência que você está chegando, e que quer muito ver todo mundo e quem quiser faze alguma coisa, que entre em contato!

– Uma idéia legal é fazer o que nós fizemos: organizar um churrasco ou um lanche para família e amigos. Assim todo mundo se vê e você não fica com uma agenda corrida e lotada que as vezes é estressante para crianças pequenas.

– Vacinas: A Clara segue o calendário inglês de vacinação, mas nós adicionamos algumas vacinas que são dadas no Brasil e não aqui como a BCG, hepatite B e catapora.

-Se estiver ensinando português para seu filho, o que espero que você esteja fazendo, lembre-se de comprar livros, filmes etc em português para você levar para o país onde mora.

-Se puder, viaje para outras partes do Brasil. É maravilhoso poder mostrar a riqueza do nosso país para nossa família gringa!