De Volta à China!

Quando eu e meu marido fomos embora de Pequim em 2012, jamais pensei que iríamos voltar para a China. Ele sempre gostou de morar na China, e saiu de Pequim arrasado. Eu por outro lado, já não aguentava mais. Estava cansada dos metrôs cheios, e dos horários de trabalho de empresas chinesas. Estava cansada do trânsito, da poluição e do empurra-empurra nas ruas e no transporte público. A lua-de-mel com Pequim havia chegado ao fim e só pensava em ir embora.

Nossas diferenças de opinião se deviam às nossas experiências diversas na China. Meu marido chegou em Pequim em 2007 com 35 anos, como expatriado enviado pela Nokia (sua antiga empresa). Sempre viveu no que eu chamo de a “bolha” expatriada, onde os grandes salários e pacotes atrativos absorvem grande parte do impacto do choque cultural. Ele nunca havia andado de metrô em Pequim, ou ido a um hospital chinês e nunca precisou resolver nenhum problema da sua vida cotidiana como pagar contas ou negociar um contrato de apartamento.

Eu cheguei em Pequim como estudante aos 22 anos. Tive apoio inicial de amigos da família, mas em menos de uma semana na China já estava morando sozinha na universidade onde estudei mandarim por dois anos. Mais tarde, saí do dormitório para morar em um apartamento com uma colega de faculdade e toda a negociação foi feita por nós mesmas. Quando passei a morar sozinha, eu mesma pagava minhas contas em banco, pegava metrô e ônibus todos os dias e todos os meus empregos foram com contratos locais.

Eu e meus colegas sempre nos referíamos aos estrangeiros trabalhando em multinacionais como os “expats” e com toda a razão, os considerávamos uma categoria diferente de estrangeiro com acesso a luxos que nós não tínhamos. Foi só depois que conheci meu marido, que experimentei um pouco do que era a “bolha”. Um pouco, porque mesmo depois que passamos a morar juntos, eu ainda trabalhava para empresas locais, usava transporte público e resolvia toda a minha burocracia sozinha. Aos poucos eu fui me cansando: meu tipo de visto na época me limitava muito na busca de emprego; eu não vivia uma vida de “expat” como meu marido e seu círculo de amigos. Minhas frustrações eram incompreensíveis para ele. E como ele poderia entender se ele somente havia vivido na bolha?

A verdade é que vivíamos no mesmo país e na mesma casa mas nossas “Chinas “ eram muito diferentes. E isso é claro, era uma enorme pressão no nosso relacionamento. Ele, feliz na carreira e dentro da bolha 100% do seu tempo e eu tendo que me virar como estrangeira na China, o que incluía o estresse da renovação do meu visto que era quase sempre uma tarefa árdua. Fui embora de Pequim exausta, com raiva e jurando que jamais voltaria à China.

E aí, 6 anos depois de irmos embora, agora casados, morando na Inglaterra e com uma filha,  surgiu a oportunidade de voltarmos à China, dessa vez para Xangai. No início achei uma loucura, mas depois de muita conversa decidimos vir por alguns motivos.

Em primeiro lugar, a proposta era vir para Xangai. Apesar de Pequim ser uma cidade maior, Xangai é infinitamente mais cosmopolita. Em segundo, iniciaríamos nossa jornada juntos tomando decisões como uma família. Sermos uma família aliás foi um fator decisivo: viemos para cá com a ideia bem definida de que o bem estar da nossa família, em especial da nossa filha, é nossa prioridade, ou seja, dessa vez temos o mesmo objetivo. E depois de tanta refexão, aqui estamos de volta. No mesmo país no qual nos conhecemos mas em um contexto completamente diferente. As experiências passadas nos deram muito conhecimento, sobre a cultura local e a língua, mas sobretudo sobre os desafios e os possíveis problemas que podem surgir. Se lembrar e aprender com nossos erros é uma coisa, nos fecharmos com medo de que que algo dê errado é outra coisa totalmente diferente. Então Xangai, aqui estou eu de braços abertos e pronta para fazer daqui minha casa.

3 comentários sobre “De Volta à China!

  1. Depois de mais de 40 anos fora do Brasil, mudando de país para acompanhar o marido, cheguei a conclusão de que a melhor forma de morar “fora” seja aonde seja é a de expatriada. Se começasse agora seria sempre assim…

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