O primeiro passaporte

A Clara nasceu na Inglaterra mas de acordo com a lei britânica, nascer em território nacional não dá direito automático à cidadania à não ser que um dos pais já tenha 5 anos de residência legal no país no momento em que a criança nasce. Hoje em dia, ambos e e meu marido temos 5 anos de residência e portanto esse ano a Clara poderá tirar a cidadania britânica dela. Porém, quando ela nasceu, em 2016, ela precisou tirar as cidadanias brasileira e dinamarquesa e como íamos viajar para a Dinamarca para o natal, ela precisava também de um passaporte.

E então com apenas 12 dias de vida, Clara foi colocada na cadeirinha do carro para sua primeira viagem até Londres onde nós fomos fazer o registro dela e tirar o passaporte na Embaixada da Dinamarca. E por que decidimos tirar a cidadania e o passaporte dinamarquês antes do brasileiro? Por motivos meramente práticos. Nós moramos em Cambridge, que fica mais ou menos a uma hora e pouco de carro de Londres onde ficam as embaixadas. Eu não dirijo, somente meu marido. A Clara nasceu dia 5 de novembro e meu marido ia viajar logo no começo de dezembro a trabalho e assim que ele chegasse já íríamos para a Dinamarca. Ambos os pais precisam assinar os passaportes então ir sozinha à embaixada brasileira enquanto ele estivesse fora era inútil além do que eu tinha zero vontade de duas semanas depois de ter bebê, pegar um trem e um metrô num frio do cão com um bebê recém-nascido. Nós só tínhamos tempo para fazer um passaporte. Como na época o Reino Unido era parte da União Européia, aqueles com passaportes europeus tinham livre movimento pela Europa, ou seja, com o passaporte dinamarquês a Clara poderia ir à Dinamarca e retornar à Inglaterra sem nenhum problema. Porém com o brasileiro, ela teria ainda que tirar o visto de residência! Ou seja, mais burocracia para resolver em pouco tempo. Ficou decidido então que ela tiraria o passaporte dinamarquês e assim que voltássemos íriamos registrá-la no consulado brasileiro.

Agendamos o horário dela e partimos para Londres. Ela dormiu quase toda a viagem de carro. Chegamos lá e logo já fomos atendidos. Meu marido achava que eles tirariam a foto da Clara lá na hora. Porém, esse não era o caso. Precisamos sair e procurar um local para tirar foto de passaporte de recém-nascido. Por sorte, ali na área havia uma Snappy Snaps, que é um estúdio fotográfico que tira fotos de passaporte inclusive para bebês. Colocamos a Clara no tapetinho e a fotógrafa começou a fotografar. Ela mesma disse que a Dinamarca é um dos países mais exigentes com as especificações das fotos. Finalmente conseguimos uma foto boa (olho fechado. Ela dormiu o tempo todo) e voltamos à embaixada. Terminamos o processo que foi rápido e em três semanas recebemos o passaporte da Clara que é válido por 2 anos.

Esse ano vamos tirar o passaporte brasileiro da Clara (ela já fez o registro de nascimento na embaixada). Ano passado fomos ao Brasil e ela tinha somente o passaporte dinamarquês. Porém, por ter um passaporte estrangeiro tivemos que preencher aquele cartão de chegada para ela no qual eu de fato escrevi que ela era dinamarquesa e brasileira. Chegando na imigração fui avisada que a Clara por ser brasileira não poderia entrar no Brasil como turista e somente com um documento brasileiro. No caso, eles acabaram aceitando o registro consular de nascimento que havíamos feito meses antes. Para evitar problemas esse ano além de renovar o passaporte dinamarquês e tirar a cidadania britânica dela, iremos também tirar o passaporte brasileiro. Nunca tirei passaporte de menor, nem no Brail nem fora, porém já renovei o meu tanto aqui na Inglaterra como na China e ambas as vezes foi tudo muito simples e rápido. Em novembro faremos o passaporte dela e aí eu volto para dizer como foi. Até lá.