Viajando Grávida (segunda parte)!!!!!

A segunda viagem grande que fiz na gravidez (eu viajei algumas vezes de Cambridge à Dinamarca também, mas estas são viagens curtas) foi  quando eu estava de quase seis meses para as Filipinas e meu marido também já estava em Hong Kong à trabalho. A decisão de ir nessa viagem foi mais difícil. Ouvi e li muitas opiniões negativas em relação a ir tão longe grávida. De irresponsável à corajosa, eu ouvi e li tudo.

Eu sou uma pessoa que sempre procura ser racional, mas quando você ouve tanta opinião contra, ainda mais na gravidez, acaba gerando inseguranças.

Por causa dessa insegurança  cancelei a viagem duas vezes. Até que percebi que eu estava desistindo de

Puka beach em Boracay

uma viagem super legal  sem nenhuma razão racional. Liguei para a minha midwife e para um médico (aqui as pessoas se registam em uma clínica local, como se fosse um posto de saúde com enfermeiras e clínicos gerais). Os dois tinham minha ficha médica e foram categóricos: eu estava bem de saúde, as Filipinas tem bons hospitais e clínicas com médicos que falam inglês e a midwife ainda acrescentou que seria ótimo viajar, e me divertir, me distrair. Os dois me aconselharam a viajar com uma meia compressora já que grávidas tem um risco maior, ainda que pequeno, de embolia por causa da altitude. Comprei as meias, o meu amigo repelente com 50% DEET e parti para na minha jornada. Novamente, peguei um trem de Cambridge à Londres e depois um metrô em Londres direto ao aeroporto de Heathrow. O único problema foi que nesse dia fez um calor insuportável e o metrô em especial estava muito quente.

Fazendo snorkeling

Como já estava quase de 6 meses, nós decidimos que eu viajaria de business por causa do comforto.  Ao chegar ao aeroporto para fazer o check-in, SUPRESA!!! Todo o sistema de check-in de bagagem estava fora do ar. Nenhuma mala grande poderia embarcar. O aeroporto estava um caos. Pessoas tirando o que podiam das malas, pilhas de malas amontoadas dentro e fora do aeroporto. Por sorte eu havia levado uma mala pequena que pude levar diretamente para o avião. O chato foi que eu tive que jogar fora todos os líquidos com mais de 100ml e comprar tudo de novo lá dentro. A viagem em si foi super tranquila. No voo coloquei meu pijaminha (que era oferecido pela companhia aérea), vi todos os filmes, fui a banheiro mil vezes, comi todos os lanches, fiz tudo menos dormir. Cheguei em Hong Kong sozinha com aquele barrigão e imediamente vi que não estava mais na Europa: Todo mundo me tratava como se eu tivesse o rei (no caso rainha) na barriga.

Aqui entra um parêntese: A Europa é super organizada. Ônibus é preparado para carrinho de bebê, serviços médicos funcionam muito bem, entre outras facilidades. Mas não espere uma fila preferencial só porque você está grávida de 42 semanas e acompanhada de 3 crianças pequenas. Já cansei de ficar em fila de imigração carregando a Clara no colo (exceto Portugal. Lá é bem melhor). Na Ásia é diferente. Por motivos culturais, famílias e consequentemente mulheres grávidas têm tratamento preferencial. Ou seja, assim que cheguei na imigração em Hong Kong uma oficial já me encaminhou para a fila diplomática (!).

Chegando no hotel em Hong Kong, já no final da tarde, eu e meu marido fomos jantar e cedinho pela manhã pegamos um voo para a capital das Filipinas, Manila. De lá foi outro vôo, doméstico, para Caticlan, de onde pegamos um barco para Boracay. Estava morta de cansada mas pelo tanto que a Clara mexia, ela estava curtindo o passeio (até hoje ela ama sair inclusive).

Sim, à essa altura, vocês devem estar pensando que eu realmente sou muito louca de ir para um lugar tão longe. Mas para vocês verem, como viajar na gravidez não precisa ser um bicho de sete cabeças!

O voo para Caticlan atrasou mais de duas horas. Eu estava morta. havia viajado 12 horas no dia anterior e estava com jet lag . Não tinha um lugar para deitar. Tinha uma sala para amamentação com um sofá que não me deixaram usar por não estar amamentando! Porém, havia uma sala de reza (em geral usada por muçulmanos). Foi para lá que eu fui. Foi interessante observar. Como eles precisam rezar em direção à Meca toda a vez que entravam  pegavam o celular e só aí se ajoelhavam. Acabei perguntando porque todo mundo via o celular antes de rezar. Ai eu descobri que existe um aplicativo de telefone que diz aonde está Meca. Achei isso o máximo! Foram vários homens que entraram lá. Nenhum, nenhum mesmo pediu que eu me retirasse. Um até perguntou de quantos meses eu estava, se era menino ou menina. Em tempos de discurso de ódio contra muçulmanos, fico pensando como foi em uma sala de reza para muçulmanos que eu achei um cantinho comfortável para deitar porque na sala de amamentação eu não fui bem vinda.

Após essa jornada toda, que ainda incluiu um tuktuk do porto de Boracay até o hotel, nós chegamos!!!!! A viagem foi ótima. . Eu já hava  ido à Boracay com meu pai quando eu morava na China e com meu marido na nossa lua-de-mel. Dessa vez nós ficamos novamente no hotel Nigi Nigi Noo Noo que eu adoro pois os quartos são bangalôs na beira da praia.  O bar do hotel é bem legal também pois tem música ao vivo. Boracay é um lugar lindo! Alugamos um barco para fazer snorkeling, passamos o dia na praia, ouvimos música ao vivo… Dia após dia os medos foram indo embora até que aquele medo inicial parecia quase bobo.

Fazendo snorkeling

A volta para casa foi tranquila também. Meu marido teve que ficar na Ásia e eu então peguei um vôo de Caticlan à Manila, outro de Manila até Hong Kong e de lá o último vôo para Londres, aonde peguei um táxi para Cambridge onde moro.

O único perrengue no retorno foi que em Hong Kong a companhia aérea pediu um documento provando que eu ainda podia viajar de avião, já que eu estava bem grávida. Como eu já sabia que isso poderia acontecer eu havia pedido que meu médico escrevesse uma carta atestando o número de semanas que eu estava e que eu estava saudável e apta a viajar de avião.

Espero que esse post ajude as mulheres grávidas na hora de decidirem viajar para destinos mais distantes. Gravidez em si já traz insegurança, tem os medos normais como aborto espontâneo, bebê parar de mexer etc. No Brasil acredito que há dois fatores que contribuem ainda mais para esse medo: O primeiro é que ainda temos a cultura do “meu médico”, ou seja, se ficar longe do “meu médico”, nenhum outro profissional poderá ajudar. A segunda é um problema mais mundial, infelizmente, que sãos os pitacos. Amigos, conhecidos e  familiares gostam de dar opinião, com a melhor das intenções  mas que nem sempre é baseada em fatos.

Em relação aos profissionais de saúde, a maioria dos destinos turísticos, em especial os mais comuns, possuem hospitais e clínicas muito boas. Vale lembrar que em nenhum lugar da Europa as mulheres tem seu próprio obstetra. Eu nem sei o nome da obstetra e parteiras que estavam no parto Clara, e isso não fez a menor diferença.  Aqui temos bebês com parteiras e médicos de plantão. Se há um problema durante a gestação também vamos ser antendidas pelo médico de plantão. Acho que por isso, eu estava tranquila se tivesse que ver um médico novo, pois até então só havia visto parterias e nem sempre a mesma, pois era uma equipe na qual elas se alternavam.  Então, relaxe! Se precisar de um médico, em especial em destinos mais comuns,  haverá boas opções.

Em relacão a segunda questão: filtro! Deixem chamar de maluca, doida, corajosa. A vida é sua, a gravidez é sua, seu corpo não é uma democracia. Informe-se, reflita e decida.

Algumas dicas para viajar na gravidez que eu acho muito úteis.

  • Converse com seu médico ou parteira sobre a sua viagem. Profissionais de saúde são os únicos que realmente sabem sobre a sua situacão médica.
  • De acordo com especialistas, a melhor época para viajar é no segundo trimestre, pois em geral a fase dos enjoos ja passou e a a mulher se sente mais disposta. O risco de aborto espontâneo também cai significativamente.
  • Pocure saber sobre experiências de outras grávidas que já viajaram para aquele destino. Antes de ir a Boracay eu entrei em contato com uma amiga que havia ido para lá no terceiro trimestre e ela havia achado tudo muito tranquilo.
  • Consulte os sites do CDC (Center for Disease Control) e WHO( World Health Organization/ Organizacão Mundial da Saúde). São  fontes confiáveis para saber se há alguma epidemia,  grau de risco  e que grupos devem evitar ou ir com cautela a algum destino.
  • Procure saber sobre os serviços de saúde disponíveis no local para onde você irá. No meu caso até liguei para a clínica internacional de Boracay.
  • Se a viagem for longa de carro ou de avião: de carro, faça paradas para caminhar e no avião, além de caminhar utilize aquelas meias compressórias para evitar trombose, além de beber bastatante água.
  • E se já estiver barriguda, não custa nada pedir que seu médico escreva uma carta atestando suas semanas de gravidez e que você está apta para viajar.
  • Se for à local com mosquitos e algum risco de doenças tropicais: REPELENTE, REPELENTE, REPELENTE!!!!!!! Eu usava tanto o repelente líquido quanto alquelas pulseiras de repelente que eu comprei em uma farmácia local.
  • Protetor solar e chapéu: Eu sempre usei e uso até par sair na rua. Pele de grávida mancha fácil. Dobre os cuidados.
  • Escolha o que comer: Dependendo do lugar, evite comidas cruas e buffets. É claro que aquele buffet legal do hotel tem em teoria riscos mais baixos, mas eu pessoalmente prefiro evitar. Água: pergunte sempre aos locais se a da pia é segura para beber (caso da Europa por exemplo)
  • Siga seu ritmo. Se pudesse voltar atrás na minhe viagem a Boracay, teria passado mais alguns dias em Hong Kong descansando antes de ir às Filipinas. Eu realmente estava muito cansada.
  • Em viagens com muita praia e piscina evite ficar com o bikini molhado muito tempo pois grávidas são mais propensas à candidíase. Se for fazer um passeio de barco com paradas em praia, vale levar uma calcinha para colocar quando sair do mar (o mesmo eu indico para mulheres amamenando. Em uma outra viagem a combinação da fricção da amamentação, com o sal do mar e o bikini molhado acabou abrindo uma ferida do meu peito. Vaselina e ficar alguns dias sem sutiã ajudaram, mas para evitar recomendo tirar o bikini molhado).

O mais importante porém é que você se sinta bem e segura. Caso contrário, a viagem não vale a pena mesmo!!!!