Xangai: Do trilinguismo para o multilinguismo

Dois meses morando em Xangai e é impossível não notar como nossas vidas mudaram. Saímos de uma cidade pequena na Inglaterra, para uma das maiores métropoles do mundo. Nosso apartamento no térreo com um gramado bem em frente onde a Clara podia brincar livremente foi substituído por um apartamento muito maior, no 29˚ andar.

Para a Clara as mudanças não  foram poucas: Ela precisou trocar de creche, de casa, de brinquedos. A alimentação também mudou: tanto na creche quanto em casa, ela come comida chinesa às vezes tanto no almoço quanto no jantar.

Eu e Clara na nossa varanda em Xangai

Mas provavelmente a maior mudança na vida dela foi a introdução de mais duas línguas, além do português, inglês e dinamarquês ao qual ela já é exposta desde o nascimento: o mandarim e o xangainês. Aqui em Xangai, assim como no restante da China, a língua oficial é mandarim, porém, há um dialeto próprio, no caso o xangainês, que em nada tem a ver com o mandarim!

A Clara tem pouca exposição ao xangainês pois só é falado entre pessoas de Xangai (e a cidade é cheia de migrantes de outras províncias). Já no caso do mandarim, ela tem uma exposição diária tanto na creche quanto em casa através principalmente da Feng, nossa empregada, e do Yuan, nosso motorista. Apesar da creche da Clara ser internacional, ela tem aulas de mandarim uma vez por semana (sob a forma de músicas e atividades próprias para a idade dela) e muitos dos seus colegas são chineses e portanto usam o mandarim entre eles. Mandarim também é umas das línguas faladas na rua, nos restaurantes, nas lojas. Crianças aprendem muito rápido como navegar o mundo e não demorou muito para que a Clara começasse a arriscar suas primeiras palavras em madarim: “ni hao” (olá), “xiexie” (obrigada) e “zaijian”(tchau) já saíram da boca dela com uma semana na China.

Um mês depois da nossa chegada, Feng, passou a trabalhar na nossa casa. Feng fala mandarim, e o dialeto da sua cidade natal. Seu inglês é limitado à poucas palavras. Até a Clara começar na creche, sua tarde toda era na companhia da Feng, que a leva todo o dia para o parquinho com sua amiga que trabalha em outro apartamento no nosso prédio e que cuida de um garotinho francês/filipino que a Clara adora ( nem sei que língua eles falam entre si). Feng fala mandarim com a Clara que também é exposta indiretamente à língua ouvindo a Feng, sua amiga e outros pais e cuidadores conversando no parquinho.

Acho interessantíssimo poder acompanhar de perto a introdução de uma nova língua na vida de uma criança de dois anos meio. Por exemplo, outro dia estava fazendo dever de casa e coloquei um áudio em mandarim. Assim que a Clara ouviu o diálogo, ela falou: “ayi”, que quer dizer “tia” e como ela chama a Feng. A conclusão é que apesar da Clara ainda não falar mandarim, ela já reconhece como uma língua familiar e já associa à pessoas específicas em sua vida, assim como ela já faz com o português, o dinamarquês e o inglês.

E assim, de mansinho, Clara passou a ter cinco idiomas ao seu redor: português, dinamarquês, inglês, mandarim e xangainês. De acordo com a Feng, Clara jé entende bastante coisa: quando está brincando no parquinho e ao ser perguntada se ela quer “hui jia“, voltar paca casaela responde “no” em inglês. Sim, é normal para crianças escutarem uma língua mas responderem em outra a qual elas se sentem mais à vontade. O que importa é que ela já entende o que está sendo ditto, e isso é incrível.

O vocabulário em mandarim cresce a cada dia. Como com qualquer pessoa, Clara aprende palavras que são importantes na vida dela: neste sentido “binggan” (biscoito)entrou incrivelmente rápido no seu vocabulário. “yao“ e “bu yao” ( quero e não quero) também, afinal nada mais importante para uma criança de dois anos do que deixar bem clara suas vontades.

E como a Clara lida com tantas línguas? Super bem, como a maioria das crianças na mesma situação que ela.  Temos sorte de termos vivido em Cambridge, onde graças ao alto número de estrangeiros, muitas crianças são bilíngues e portanto as creches e escolas respeitam e incentivam o multilinguismo. A atual creche da Clara aqui em Xangai também é super preparada para lidar com bilíngues e multilíngues e nós temos bastante apoio institucional vindo deles. A própria coordenadora da creche enfatizou como o multilinguismo não faz mal ou gera confusão ou atrasos mas que exige sim, consistência e paciência.

Estamos apenas no início da nossa jornada multilíngue, mas tem sido muito gratificante ver nossa pequena mergulhar nesse mundo maravilhoso e diverso que é a China.

Um comentário sobre “Xangai: Do trilinguismo para o multilinguismo

  1. Oi Joana!
    Acabei de chegar ao seu blog e estou adorando. Me pergunto por onde vcs andam e como está o progresso da Clara. Meu interesse é grande pois aqui em casa também temos um futuro trilíngue/multilíngue: Milo, meu filho de 3 meses é filho de brasileira com mexicano e é exposto indiretamente ao idioma inglês, língua que nós pais usamos pra nos comunicar. Também estamos introduzindo aos poucos os “baby signs”, que acredito vá servir como uma espécie de ponte para ele transitar entre os três idiomas antes de começar a falar.
    Fico aqui aguardando updates de vcs rs

    Um abração,
    Mariana

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