Em Outubro de 2017, quando a Clara tinha 11 meses, nós partimos para Xangai para um temporada de dois meses devido ao trabalho do Thomas. Eu e Thomas já havíamos morado na China, em Beijing porém apesar de termos visitado Xangai muitas vezes, nunca havíamos morado lá. Era também a primeira vez que viajaríamos com a Clara por um tempo prolongado, pois após a estadia em Xangai, iríamos ainda para Singapura, para a formatura do Thomas no EMBA e depois sairíamos de férias na Tailândia. Ou seja, seria um total de 3 meses longe de casa.
A viagem à Xangai em si foi tranquila mas a chegada no aeroporto internacional de Pudong foi bem confusa. Isso porque neste aeroporto todas as malas precisam passar por um raio-X na saída. Como é um aeroporto com um grande volume de voos e somente duas máquinas de raio-X, é óbvio que isso cria uma confusão na saída. Tarde da noite, com um bebê tentando dormir no sling e com jet lag, posso dizer que essa chegada não foi das melhores.
Quando finalmente conseguimos sair, já havia um motorista nos esperando para nos levar ao nosso apart-hotel. Ficamos hospedados em um lugar chamado Sommerset em uma área de Xangai chamada Xuhui, bastante popular entre expatriados. O apartamento era muito bom, com dois quartos sendo um uma suíte. Ficamos em um quarto e a Clara em outro onde ela dormia em um berço oferecido pelo apart-hotel.
Três dias depois da nossa chegada, Thomas teve que ir à Beijing também a trabalho e eu e Clara ficamos em Xangai. Nós duas ainda estávamos com bastante jet lag e nos faltava uma rotina. Apesar de saber falar mandarim, ainda não sabia onde fazer compras ou onde levar a Clara para passear. Pegar um táxi na rua na China hoje em dia é praticamente impossível. As pessoas utilizam uma versão local do Uber chamada Dididache que na época só funcionava caso você tivesse uma conta de banco chinesa, que eu não tinha. Para piorar, Facebook, Whatsapp, Instagram e o Google são bloqueados na China e para acessá-los é preciso um VPN e o meu não funcionava. Ou seja, passava o dia sozinha com a Clara, cansada, meio perdida e à noite me sentia super sozinha, sem ter com quem falar.
No terceiro dia que estava sozinha veio de Hong Kong uma fada madrinha, ou melhor, minha melhor amiga, Darlene. Ela passou o final de semana comigo me fazendo companhia e me dando uma força enquanto o Thomas não chegava. Com a Darlene lá tudo melhorou. Colocamos a fofoca em dia, saímos para almoçar no badalado Xintiandi e de noite, pedímamos delivery através de um aplicativo que ela havia achado no qual era possível inclusive pedir pratos ocidentais.
Aqui vai um parêntese sobre a Clara. Como ela tinha menos de um ano, ela ainda comia comida preparada para ela, sem sal, açucar ou qualquer aditivo. Como eu não sabia da oferta de comida de bebê pronta na China e sabendo que em geral produtos internacionais são muito caros, nós levamos da Inglaterra um estoque de papinhas prontas da Ella’s Kitchen, que é uma marca inglesa que oferece comida pronta orgânica e saudável. Foi na China que ela de fato começou a comer a comida “da família”.
Darlene voltou para Hong Kong, Thomas voltou de Beijing, o jet lag passou, o VPN começou a funcionar e aos poucos uma rotina foi se formando. Na internet, achei um grupo de mães e pais expatriados chamado Shanghai Mamas que uma vez por semana promovia um encontro em um café na cidade. Descobri também que na China ninguém vive sem o Wechat, um aplicativo que combina funções do Facebook, Instagram e Whatsapp mas que ainda permite que você faça pagamentos e até pedidos online. Todas as pessoas e serviços tem Wechat e com a Shanghai Mamas, não foi diferente: passei a fazer parte do grupo no aplicativo e através delas, conheci outros grupos virtuais como o Mães Brasilieiras em Shanghai. Foi também graças ao Shanghai Mamas que achei uma grupinho de bebês em inglês para a Clara chamado Jitterbugs. O estúdio ficava muito perto da nossa casa e era possível pagar por aula, então uma ou duas vezes por semana levava a Clara lá. Era bom para ela se divertir e para eu poder socializar.
Enquanto o Thomas trabalhava eu procurava sair o máximo possível e manter uma rotina. Me matriculei no F45, um estúdio de fitness butique australiano e o frequentava pelo menos 3 vezes na semana e saía bastante com a Clara. Um dos meus passeios preferidos era o Tian Zi Fang, uma área super legal cheia de lojas e restaurantes dos mais tradicionais até bares super moderninhos. No fim da tarde, sempre subia com a Clara para a área comum do prédio onde havia um playground com piscina de bolinhas e escorrega. Clara também ganhou seu primeiro andador que “falava” mandarim. A recepcionista na área de lazer adorava a Clara e ficava o tempo todo com ela o que me permitia relaxar um pouco. Depois de brincar, voltávamos para o apartamento, onde eu dava janta e banho na Clara e a colocava para dormir. Com rotina, qualquer lugar e viagem ficam mais fáceis!
Clara fez uma ano em Xangai e para comemorar saímos para almoçar com amigos e beber cerveja (nós, não a Clara) e no dia no aniverário dela, fizemos um ensaio de 1 ano com uma fotógrafa irlandesa que achei pesquisando na internet. Escolhemos várias paisagens na cidade e as fotos ficaram maravilhosas. Algumas semanas depois, no país onde seus pais se conheceram e se casaram, nossa pequena deu seus primeiros passos e passou a ser uma toddler.
Foi também algumas semans depois que Clara precisou tomar sau primeira dose da MMR além de outras vacinas do calendário britânico. Na dúvida de onde levá-la, acabamos seguindo o conselho de alguns expatriados e fomos a Hong Kong vacinar nossa pequena. Essa viagem, fica para o próximo post.
Algumas dicas para quem está passando um temporada em algum lugar com crianças:
– Rede de apoio: Em especial em países com uma cultura muito diferente da sua, procure a comunidade internacional e/ou de brasileiros. Eles podem ajudar muito. No meu caso a Shanghai Mammas foi essencial;
– Faça amigos! Além de você ter companhia, eles terão muitas dicas para te dar.
– Crie uma rotina: Não precisa ser igual à de casa, mas ela precisa estar lá. E não é só para a criança, é para você também.
– Mantenha contato com amigos e família. Mesmo mudanças curtas, podem ser muito difíceis afinal perdemos nossa rede de apoio e isso pode gerar um sentimento de solidão grande.
– Aproveite para explorar o local e os arredores. Nós passeamos bastante por Xangai em especial nos fins de semana.
Em relação à dicas para a China, isso merece um post exclusivo, não tem como. Aguardem!