Volta e meia aparece na internet uma foto ou vídeo de uma grávida malhando pesado ou mulheres que tiveram bebês a pouco tempo já em plena forma física e não demora muito para que as críticas e julgamentos apareçam. Em geral algo na linha do “prefiro passar meu tempo com meu filho que preocupada com minha aparência” ou “claro que fulana já está bem, com babá, nutricionista e personal eu também estaria”. Quando é vídeo de grávida malhando então, é ainda pior. Comentários super ignorantes de  como a mulher está sendo egoísta em só pensar nela e não na saúde e segurança do bebê (o que é irônico já que praticar atividade física na gravidez em geral faz muito bem) e por aí vai.

Como eu sou uma dessas “malucas” que malharam normalmente durante a gravidez e voltaram a praticar atividade física relativamanete cedo, esses tipos de comentários me incomodam bastante por alguns motivos.

Em primeiro lugar, atividade física não é luxo, nem modismo, nem egoísmo. A Organização Mundial de Saúde declarou recentemente que sedentarismo é tão prejudicial à saúde quanto fumar. É isso mesmo, não fazer nada faz muito mal então quem pratica atividade física está mais do que certo.  Essa recomendação vale também para as grávidas. Aquela história de que é preciso parar atividades nos primeiros três meses, não pegar peso, etc já não corresponde à realidade e em gravidezes de baixo risco atividade física é recomendada durante toda a gestação. Não vou entrar aqui nos detalhes mas em geral, ela ajuda a controlar o peso, evitar dores nas costas, contribui para o controle da pressão e ajuda no parto e na recuperação. Além disso, é uma excelente forma de controlar a ansiedade. Atividade física bem feita e bem acompanhada é bom para o corpo e para cabeça e pelo menos aqui na Inglaterra, quando grávidas somos estimuladas a praticar algum tipo de exercício.

Em segundo, e em especial para mulheres treinadas e bem acompanhadas em geral é possível continuar com mesma rotina de exercícios sem problemas. É claro que há atividades que não são recomendadas ou que exigem mais cuidado. Mas ouvi falar de poucas atividades que são proibidas sendo que a maioria só exige modificações. E é claro,  a percepção de esforço é muito diferente para cada mulher. Uma grávida que nunca malhou  não deve aspirar a malhar como a Serena Williams por exemplo, que é uma atleta de elite e jogou uma final grávida de 2 meses. Ela fez isso porque o corpo dela permite devido à anos e anos de treino. O importante aqui é saber que atividade física em grávidas de baixo risco faz bem e que mulheres treinadas que mantém seus hábitos não são irresponsáveis de forma alguma. Eu mesma, que não sou nenhuma atleta, malhei normalmente e andei de bicicleta (essa sim uma atividade não recomendada em especial nos segundo e terceiro trimestre, mas eu tomava bastante cuidado) a gravidez toda. Fiz algumas adaptações, mas continuei com meu Body Pump e outras atividades firme e forte. E acredito que me senti bem e disposta até o final da gravidez por causa dos meu hábitos. Apesar de ter tido uma cesárea de emergência, me recuperei super rápido e em uma semana já fazia caminhadas longas empurrando o carrinho da minha filha e com dois meses estava de volta à academia.

O mesmo vale para o retorno ao corpo depois da gravidez. Acho de extremo mau gosto chamar uma mulher de egoísta porque ela voltou logo a sua rotina de exercícios e consequentemente ao seu corpo de antes da gravidez da mesma forma que acho um absurdo as cobranças para perder peso rápido depois da gravidez. No caso de celebridades as pessoas ainda gostam de apontar que é fácil já que contam com ajuda de personal, nutricionista, babá. etc. Concordo que que ter tudo isso ajuda, mas não são fatores decisivos e nem necessários. Afinal, mesmo com personal, é a mulher que está tendo a força de vontade a disciplina mesmo estando em pleno puerpério. Sem dedicação, não tem personal, nutricionista nem rede de apoio que ajude assim como a ausência de tudo isso não é obstáculo quando há dedicação, vontade e um pouquinho de apoio, claro. Vale lembrar que para mulheres que malham ou praticam algum esporte há muito tempo e continuaram suas atividades durante a gravidez não é preciso muito esforço graças à uma coisa maravilhosa que se chama memória muscular. Como me disse uma prima minha antes de eu engravidar, “ depois da gravidez você vai agradecer cada abdominal que fez na vida antes de engravidar”. Na época eu nem pensava em filhos e nem dei muita atenção, mas depois… Como isso é verdade! Depois que a Clara nasceu eu não conseguia mais malhar todo dia, afinal eu amamentava,  não tenho empregada nem babá e dependia de amigos, mãe visitando, ou marido em casa para poder ir à academia.  Porém indo apenas 3 ou 4 vezes por semana por uma hora somente foi o que bastou para entrar em forma sem dieta nem sacrifício. Ou seja, nem sempre essas mulheres que aparecem magras e e forma depois da gravidez passaram horas malhando.

Em terceiro lugar, acho um absurdo achar que uma mulher perde o direito de se cuidar porque se tornou mãe. Essa idéia da maternidade sacrificada onde temos que “padecer no paraíso”, vivendo em constante estado de sacrifício é péssima, machista e prejudicial para a mulher e o bebê. Quando a Clara nasceu eu como todas as mulheres aqui, recebemos a visita da parteira em casa e ela sempre falava da importância de cuidar de mim mesma. Sabe quando no avião o comissário de bordo diz que caso haja despressurização da cabine que a pessoa coloque a sua máscara de oxigênio primeiro e só depois ajude a pessoa ao seu lado?  A lógica é que você precisa estar respirando para poder ajudar alguém  caso contrário serão duas pessoas desmaiadas. Isso não deveria ser um procedimento somente para avião mas para a vida. A gente só consegue cuidar de alguém de verdade se estamos bem nós mesmas. Uma mulher que tira algumas horas para si, seja para malhar, caminhar, ler, dormir, está cuidando da própria saúde física e mental. Deixar de se cuidar  pode causar problemas sérios como depressão pós-parto. Para mim atividade física tem efeito terapêutico então quando a Clara tinha 2 meses, eu passei a tirar leite e deixava ela com o pai e a mamadeira por uma hora e meia enquanto eu malhava. Do meu dia todo, praticamente 22 horas eram da minha filha que inclusive sempre mamou em livre demanda mas duas horinhas eram minhas e eu acho isso não só justo mas necessário.

E para finalizar, julgar mães por qualquer motivo, seja porque ela começou a malhar logo depois de ter bebê ou porque ela nunca mais fez atividade física; porque ela não amamentou ou optou por uma cesárea, seja lá qual for o motivo, o ato de julgar é errado e ponto, ainda mais  sem nem sequer saber o contexto ou a história daquela mulher. Já é tão díficil ser mãe e ter ainda que lidar com opiniões desnecessárias, palpites e julgamentos?

Cada mulher sabe o que é bom para ela mas lembre-se que cuidar de si mesma não é egoísmo. Não tem nada de errado em voltar a forma rápido assim como também está tudo bem em demorar mais. Está valendo emagracer rápido, devagar, amamentar, dar fórmula, ter parto normal, cesárea e até não ser mãe. Só não vale jogar pedra nas outras mulheres. Isso não pode.